Jesus levou consigo tres discipulos e os conduziu sobre uma montanha. A montanha é a terra que se levanta rumo ao céu. Ela recebe o primeiro raio do sol que se pousa sobre ela. Se levanta na luz, a mais proxima do céu.
Na Biblia, e também em outras religiões, a montanha é o lugar onde mora Deus. Delá Deus fala ao seu povo, encontra o seus profetas, conduz os seus amigos. Agora Jesus escolhe Pedro, Tiago e João para se revelar. Perto dele, aparecem Moises e Elias, os unicos que viram Deus. E Jesus se transfigurou.
O Evangelho não destaca nenhum detalhe da transfiguração, exceto o de roupas que se tornaram resplandecentes e a voz que convidava a escutar Jesus. Mas se as roupas que cobrem o corpo são tão luminosas, qual será o esplendor do corpo? E se assim é o corpo, o que será do coração?
É costume enfeitar o corpo quando participamos a uma Festa e isso porque o coração vive a beleza deste momento festivo e o comunica ao rosto também.
Pedro, seduzido por isso, toma a palavra: Rabi, belo é para nós estarmos aqui. Façamos tres tendas ! O entusiasmo de Pedro, sua exclamação maravilhada, nos fazem entender que a fé para ser vigórosa deve jorrar de uma sensação de espanto, de uma emoção amorosa, de um grito ” que lindo!” jogado de um coração cheio.
O que seduz a Pedro não é a onipresença de Deus, não o brilho do milagre, ou o fascínio do infinito, mas a beleza do rosto de Jesus. Esse rosto é o lugar onde o coração fala, cheio de luz; onde o homem finalmente se sente em casa: aqui é bom ficar! Em outros lugares, estamos sempre longe, viajando.
O Evangelho da Transfiguração trasmite energia, dá asas ao nosso espírito: o mal e a escuridão não ganharão, este não é o destino do homem. Sua vocação é libertar a luz. Ter fé é descobrir, juntamente como Pedro, a beleza do viver, de dar o gosto por tudo o que faço, ao meu despertar de manhã, aos meus abraços, ao meu trabalho. Toda a vida faz sentido e ilumina.
Mas este Evangelho traz-nos uma notícia ainda mais bonita: a trasfiguração não é um evento que diz respeito apenas a Jesus, ao qual assistir como espectatores, é um evento que interessa a todos, ao qual podemos e devemos participar.
O rosto de Jesus na montanha é o rosto último do homem, é o presente do futuro. É, por um momento, o olhar para o Reino, percebido como uma força poderosa que pressiona a nossa vida, nos transforma, abre janelas do céu. O evangelho nos convida sempre à conversão, isto é a nos voltar para a luz, como faz um girasol. Neste movimento de encontrar o sol, eu estou irradiado, me ilumino, me imbebo e gozo da luz, pois a luz é o primeiro símbolo de Deus.
Pela primeira vez, os apóstolos vêem Jesus em sua beleza, vão além, descobrem, fascinados, o esplendor de Deus. Também nós se não conhecermos a beleza de Deus, nunca poderemos nos entregar a ele, definitivamente. Sem beleza, não podemos viver: a beleza da natureza, da arte, a beleza de gestos e carinho de amigos. É esta que nos leva, de alguma forma a Deus. Marcos, em seu evangelho, escreve que de repente, olhando ao redor, os tres Apostolos não viram ninguém além de Jesus, sozinho, com eles. E a Transfiguração é celebrar a beleza de Deus, tão essencial para se tornar crente, tanto como a conversão para a beleza é repentina.
É um chamado que tem o sabor de uma graça olhar ao redor e ver somente Jesus que ilumina e enche a nossa vida, com a sua beleza. Será a beleza que converterá o mundo, e nós, frágeis discípulos do Senhor, somos convidados a viver na beleza do relacionamento e da verdade, a companhia dos homens, para dizer-lhes e para dar-lhes a esperança de uma Presença que ainda precisa ser revelada em sua totalidade.
Chamados a testemunhar com simplicidade e verdade que somente Jesus preenche nossos corações, enche nossa alma, de sua beleza para nos tornar um palido reflexo.
Pe. Gianfranco Vianello