A desolação
Em sua catequese da quarta feira sobre o nosso relacionamento com Deus Papa Francisco ensina que:
Não podemos deixar de prestar atenção aos sentimentos, somos humanos e o sentimento é uma parte da nossa humanidade, e sem entender os sentimentos seremos desumanos, sem viver os sentimentos, seremos indiferentes ao sofrimento dos outros e incapazes de aceitar o nosso.
O estado espiritual a que chamamos desolação, acontece quando no coração tudo está escuro, triste. Este sentimento pode ser ocasião de crescimento.
A desolação provoca uma “trepidação da alma”, mantém-nos alertas, favorece a vigilância e a humildade, protegendo-nos contra os ventos do capricho. São condições indispensáveis para o progresso na vida, inclusive na vida espiritual. A desolação é inquietação, ímpeto para dar uma reviravolta na própria vida.
Em nosso relacionamento com Deus a desolação é um convite à gratuidade, a não agir sempre e unicamente em vista de uma gratificação emocional. Estar desolados oferece-nos a possibilidade de crescer, de começar uma relação mais madura, mais bela, com o Senhor e com os entes queridos, uma relação que não se reduza a uma mera troca de dar e receber.
O Evangelho observa que Jesus vivia frequentemente circundado por muitas pessoas que o procuravam para obter algo, curas, ajudas materiais, mas não simplesmente para estar com Ele. Jesus era pressionado pelas multidões e, contudo, estava sozinho.
Alguns santos, e até certos artistas, meditaram sobre esta condição de Jesus, e decidiram entrar num relacionamento mais pessoal. Poderia parecer estranho, irreal, perguntar ao Senhor: “Como estás?” No entanto, é um modo muito bonito de entrar numa relação verdadeira, sincera, com a sua humanidade, com o seu sofrimento, até com a sua singular solidão. Com Ele, que quis partilhar até ao fundo a sua vida conosco.
Nos faz bem aprender a estar com Ele, estar com o Senhor, aprender a estar com Senhor sem outro objetivo, exatamente como nos acontece com as pessoas de quem gostamos: desejamos conhecê-las cada vez mais, porque é bom estar com elas. A vida espiritual é a relação com o Vivente, com Deus, o Vivente, irredutível às nossas categorias.
Quem reza observa que os resultados são imprevisíveis, não devemos ter medo da desolação, mas levá-la adiante com perseverança, não fugir, e na desolação procurar encontrar o coração de Cristo, encontrar o Senhor, e a resposta chega sempre.