
Maria Benigna será declarada Beata segunda-feira 24 de outubro na diocese de Crato com a missa de ação de graças, será primeira beata cearense
Benigna Cardoso da Silva, mais conhecida como Menina Benigna Nasceu em Santana do Cariri, 15 de outubro de 1928. Órfã dos pais foi criada pela avó e pelas tias e teve uma infância alegre junto com as primas no Sítio Oitis. Na escola era aluna dedicada e fiel assídua às missas na Igreja Matriz de Santana. Além disso, ela também realizava tarefas domésticas, prestando auxílio a suas tias, que eram idosas e tinham problemas de saúde.
Benigna, já adolescente de 13 anos, passou a ser assediada sexualmente por Raul Alves Ribeiro, um rapaz de 17 anos, residente na vizinhança sendo sempre rejeitado por ela.
A adolescente procurou a orientação do pároco da cidade, padre Cristiano Coelho Rodrigues, que a aconselhou a resistir firmemente e lhe presenteou com um livro ilustrado sobre histórias bíblicas.
Em 24 de outubro de 1941 a adolescente foi martirizada com três facadas por defender a castidade.
Raul foi finalmente capturado. Ele foi levado para um abrigo de menores em Fortaleza e cumpriu pena. Cinquenta anos depois, ele retornou ao local do crime, que se tornara um ponto de peregrinações, e se declarou arrependido.[6]
Considerada como uma mártir da castidade, passou a ser venerada por fiéis da Igreja.
É interessante o testemunho de Terezinha de Alencar Nuvens, a Tetê, irmã de criação de Benigna recorda a infância: nós éramos um grupo de quatro meninas:
“Nós fomos criadas da escola para casa, e de casa para a igreja. Nossa amizade era dentro de casa, entre nossa família”, recorda Iranir Oliveira, hoje com 86 anos.
Com a religiosidade muito forte na sua família, Benigna chegava até a fazer companhia à avó, na sexta-feira, para rezar. Além disso, segundo a irmã, era uma menina muito organizada. Em cada caixote, separava seus vestidos de acordo com a ocasião: brincar, estudar ou ir à missa.
Ainda aos 12 anos, Benigna despertou um grande desejo de cultivar plantas medicinais e flores. Com autorização da sua família, buscava água na cacimba, diariamente, para regá-las. A fonte ficava a poucos metros de casa e ela costumava ir sozinha.
Sob a luz do luar, as pequenas Benigna, Tereza, Iranir e Tetê se reuniam para brincar de roda na casa de sua avó, no sítio São Gonçalo. “Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, olhai pro céu, olhai pro céu, pro céu, pro céu. Para ver nosso Senhor, Senhor, Senhor, para todos se ajoelhar”, cantavam as quatro para, em seguida, ficarem de joelhos. O mesmo verso se repetia, exceto ao fim: “para todos se levantar”, mandava a canção. Todas obedeciam.
Com seus vestidos sujos do barro do terreiro, a brincadeira seguia à noite toda e só era interrompida para que as quatro lavassem os pés e as mãos, antes de comer, para dormir. O encontro entre elas acontecia todo final de semana, já que as famílias moravam em sítios distintos, mas todas foram criadas juntas pela avó. No interior, no termo mais popular, “irmãs de criação”.
A família de Benigna Cardoso da Silva já sabia que um rapaz, que ainda não tinha sido identificado, estava perseguindo-a. Ao voltar da escola, a jovem contou ao padre Cristiano Coelho que um outro garoto queria namorar com ela e mandava cartas com frequência. O sacerdote, imediatamente, contou para sua família, que a retirou da escola que ficava no antigo sítio de Inhumas, mais próxima de onde morava, colocando-a na sede de Santana do Cariri. Seu irmão Cirineu passou a esperar sua saída do colégio para acompanhá-la até em casa, por segurança.
Foi buscando água para cuidar de suas plantas que, no fim da tarde do dia 24 de outubro de 1941, Benigna foi atacada por Raimundo Alves Ribeiro, o “Raul”, de 17 anos, que a perseguia há mais de um ano. Escondido na vegetação, o jovem a surpreendeu e tentou agarrá-la. Como ela resistiu, ele desferiu golpes com um facão, ferindo suas mãos, a cabeça, os rins e, fatalmente, o pescoço.
É interessante também o testemunho de Iranir Oliveira, irmã de criação de Benigna, que mantém lembranças da santa popular.
Na época do crime, outros moradores foram presos, suspeitos de matar Benigna, inclusive seu irmão Cirineu, que encontrou seu corpo. Raul só foi capturado dias depois pela Polícia e encaminhado para um abrigo de menores em Fortaleza. Após cumprir a pena, ele voltou à Santana do Cariri e se mostrou arrependido. A família da jovem pediu que ele se retirasse da cidade. Raul deixou Santana do Cariri e mudou-se para São Paulo. Depois disso, nunca mais foi visto.
O assassinato da jovem causou grande comoção em Santana do Cariri pela crueldade em que seu corpo foi encontrado. Logo, o local onde foi morta chegou a ser alvo de peregrinação e devoção. O próprio padre Cristiano Coelho, que antes do crime havia entregue uma Bíblia a Benigna, incentivou a fé em torno dela como “Heroína da Castidade”.
Em 2011, a Diocese de Crato abriu o processo de beatificação de Benigna, que foi aceito, dois anos depois, pelo Vaticano. Após ser aprovado, ela foi aclamada “Serva de Deus” pela Igreja e, após apresentar as virtudes necessárias, proclamada como “venerável”.
A celebração começa a ser preparada sábado 15 de outubro, com a 19ª Romaria de Benigna, promovida pela diocese de Crato. No dia 23 de outubro terá Romaria das Crianças. E a solenidade de beatificação será segunda feira 24 de outubro, com a missa de ação de graças.
(Cfr. Diário do Nordeste)