JOÃO BATISTA: O nascimento

João é um homem que só Deus poderia dar a Israel. Na origem de sua história há uma mulher estéril e idosa, Isabel, e há um pai no templo, também nos anos: eles são os pobres do Senhor, “os justos diante de Deus”. Nada pode condicionar a escolha de Deus, nem isso pode ser impedido por limitações humanas como a velhice e a esterilidade: Deus requer apenas que haja predisposição, expectativa, fé.

Quando João nasce, recebe um nome que fixa para ele a vocação e a missão, o nome dado por Deus através do anjo: João, dom de Deus, será chamado de profeta do Altíssimo, que irá “diante do Senhor a preparar os seus caminhos”

Toda a atividade e existência de João são expressas e – poderíamos dizer – esgotadas, por ser testemunhas de Cristo. João é todo atraído, magnetizado por Àquele que está por vir. Ele sente que entre ele e o Cristo há uma distância abismal, não é digno de oferecer o serviço humilde de um escravo: “desatar as sandálias de seu mestre”.

Sua pessoa, sua existência e sua atividade encontram a sua dobradiça em Jesus, nele encontra sua explicação. Para Isabel o tempo foi cumprido e o filho nasceu. As crianças veem a luz como cumprimento de um projeto, veem de Deus, trazem com elas faíscas de infinito, alegria e palavras de Deus, não nascem por acaso, mas por profecia.

“No oitavo dia foram circuncidar o menino e a mãe pronunciou o nome a dar-lhe : se chamará João “, que significa em hebraico: Dom de Deus. Se manifesta aqui um derrubamento revolucionário das partes: o sacerdote, Zacarias, cala e a mulher pega a palavra!

Isabel compreendeu que a vida, o amor que sente bramir, dentro de si, são um pedaço de Deus; que a identidade de seu filho é para ser um presente para todos. E esta é também a profunda identidade de todos nós: o nome profundo de cada criança é: “dom perfeito”, dom de Deus.

A palavra ficava encerrada dentro dela , até que a mulher fosse mãe e casa de profeta, enquanto Zacarias permaneceu em silêncio porque ele não havia acreditado no anúncio do anjo. Ele fechou o ouvido do coração e desde então, perdeu sua palavra. Ele não ouviu, e agora ele não tem mais nada a dizer.

Indicações que fazem pensar! Quando nós crentes, nós sacerdotes, perdemos a referência à Palavra de Deus e da vida, nos tornarmos áfonos (sem palavra), insignificantes, nós não enviamos mais mensagem para ninguém.

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Os profetas ainda existem, eles estão presentes entre nós. Eles são homens e mulheres que vivem o Evangelho com simplicidade e convicção: o casal que amplia suas casas para levar em custódia uma criança ferida na alma, o jovem que dedica algum tempo para manter as crianças e educá-las para a vida, a consagrada que consome dias e saúde para dar esperança ao desesperado.

Estamos cercados por testemunhas silenciosas, por milhares de profetas que testemunham Jesus, como João Batista. Estamos nos acostumando ao pessimismo, mesmo na Igreja, uma pequena e briguenta lógica mundana prevalece. Não deve ser assim entre nós: a profecia nos ajuda a captar os sinais luminosos que nos alcançam na vida cotidiana

Novos tempos exigem novas formas de viver e anunciar o Evangelho. Portanto, devem ser as nossas comunidades cristãs chamadas a ler o presente à luz do Evangelho para dar esperança ao nosso mundo inquieto.

Como João, somos chamados a viver e propor a conversão dos corações, a acolher a Deus que vem, a denunciar o abuso e a injustiça, com mansidão, mas com decisão, dentro e fora da Igreja, para ser pelo menos um pouco de transparência de Deus.

Pe Gianfranco Vianello

NB. Sobre o texto do Benedictus, o Hino de louvor de Zacarias, ao nascimento do filho João, é disponível uma reflexão bíblica, recolhida num pequeno livro “O sol que vem do Alto” Editora Mundo e Missão, proposto por padre Gianfranco Vianello, Pime.

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