A história se repete, cansada, sem imaginação. Mateus, o Evangelista, nos fala sobre o triste fim do maior dos profetas. O próprio Jesus elogiou isso, declarando que João Batista foi o maior homem que já viveu. No entanto, o pobre João termina seus dias em uma prisão em Macheron, sacrificado ao ciúme furioso de uma primeira dama que não aceita suas críticas e que manipula o apetite de um rei fantoche, vítima de seus próprios impulsos incontroláveis e excessiva imagem de si mesmo.
João é morto, decapitado, sem motivo, sem julgamento, sem justiça. Herodes o ouviu de boa vontade e temeu-o, dizem os evangelistas, mas não foi suficiente para tornar aquela abertura de escuta uma verdadeira conversão.
Como é possível que um homem de responsabilidade, como Herodes, mesmo que não seja igual a seu pai, seja manipulado por sua concubina? E faça matar João, que também ouvia de bom grado?
“João tinha dito a Herodes: “Não te é permitido ter a mulher de teu irmão”…..A filha de Herodíades apresentou-se e pôs-se a dançar, com grande satisfação de Herodes e dos seus convivas. Disse o rei à moça:“Tudo o que me pedires te darei”. Ela saiu e perguntou à sua mãe: “Que hei de pedir?”. E a mãe respondeu: “A cabeça de João Batista”(Mc 6,17ss)
Às vezes, como Herodes, também ouvimos de boa vontade as coisas de Deus, e quantas vezes se lê sobre presumíveis “conversões” de personagens do mundo do espetáculo ou dos poderosos deste mundo!
Mas a conversão se vê nos fatos, quando o julgamento muda e a vida se adapta às descobertas feitas. Este não é o caso do inepto Herodes, que se delicia com a pregação, mas nunca se converte.
Herodes tinha feito o que costumamos fazer: diante das críticas de quem nos coloca em dificuldade, em vez de nos perguntarmos se o que ele diz tem um grão de verdade, preferimos … nos livrarmos disso! A ideia de poder mudar, converter, mudar de vida nunca lhe passou pela cabeça, nem por um momento. A solução foi encontrada para ele por sua cruel amante, furiosa contra a pregação do Batista que não era tão sutil. E assim, hoje, estamos aqui para lembrar Herodes e Herodiades não por seus méritos ou habilidade política, mas por serem os assassinos do maior dos profetas.
É o mesmo para nós: somos tão obcecados com o julgamento dos outros que corremos o risco de cometer erros gravíssimos para não causar uma má impressão. Uns mais, outros menos somos todos influenciados pelo contexto social: sentimos uma forte pressão para sermos pessoas à altura do nosso papel, sempre nos sentimos bem observados para sermos bons filhos, bons pais, bons cristãos, bons padres .. Como se tivéssemos para passar continuamente em um exame.
Herodes apaga a pequena chama de curiosidade que nasceu nele para não causar má impressão. Aproveitando sua fraqueza, a pérfida Herodiades conhece a fraqueza de Herodes: o julgamento dos outros. Pedimos ao Senhor que nos tornemos pessoas livres, capazes de ir além do que as pessoas pensam de nós.
Pe. Gianfranco Vianello